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sábado, 21 de abril de 2012

A cidade antiga e seus valores na Grécia


"Uma cidade estado, entre os antigos, não se formava no decorrer do tempo, pelo lento desenvolvimento do número de homens e construções. Fundava-se uma cidade de uma só vez,completamente num dia...Uma vez que as famílias, fátrias, e  tribus ,convencionavam unir-se e ter o mesmo culto comum. Assim, a fundação de uma cidade, era sempre um ato religioso"...

"Cercada de uma vedação sagrada e estendendo-se em volta de um altar, a"urbes"era o domicílio religioso que recebia os deuses e os homens da cidade"...

"Não devemos nos esquecer que nos tempos antigos, o que constituía o laço de toda sociedade era o culto.Assim como um altar doméstico tinha agrupado em redor de si os membros de uma família, assim a cidade, era a reunião daqueles que tinham os mesmos deuses protetores e, que cumpriam o ato religioso no mesmo altar.
Este altar da cidade  estava fechado no recinto de uma edificação, que os gregos chamavam " pry tanado"; edifício que continha o lar...Numa cidade não havia coisa mais respeitada do que esse altar em que ardia o fogo sagrado"...
" O fogo público era o santuário da cidade; era o que a fizera nascer e a conservava.
 Como o culto do lar doméstico, era secreto, e só a família tinha direito de tomar parte; assim o culto público, era vedado aos estrangeiros"...
" Na Grécia havia uma porção de divindades políadas pois cada cidade tinha os deuses que os habitantes cultuavam"...
" Na refrega, os deuses e cidades auxiliavam-se mutuamente, e quando venciam, era porque todos tinham cumprido seu dever...Se, pois, pelo contrário, ficavam vencidos, imputavam a culpa aos deuses, repreendendo-os por não terem cumprido o seu dever de defensores da cidade (polis)chegando algumas vezes, até a destruir-lhes os altares e a arremessar pedras contra os templos"...
" Uma cidade era como uma pequena igreja completa que tinha os seus deuses, os seus dogmas, e o seu culto"..(2)
Entre as cidades estado gregas encontramos unidade religiosa, de língua e de costumes ; só não encontramos unidade política, o que foi precisamente a perdição da Grécia, que por estar dividida, foi conquistada  elos macedônios, através de Filipe.
Foi na estrutura social da vida na "polis", que a cultura grega atingiu pela primeira vez a forma clássica...
.Segundo Jaeger ,( 1 )a "polis" representa "um princípio novo, uma forma mais firme e acabada de vida social de muito maior valor para os gregos que nenhuma outra".
As palavras política e político, derivadas de "polis", ainda se mantêm vivas entre nós. Lembram-nos que foi com a "polis" grega que apareceu pela primeira vez o que denominamos estado;conquanto o termo grego possa se traduzir tanto por estado quanto por cidade.
A "polis", "é o centro dominador, a partir do qual a sociedade se organiza històricamente. O período mais importante da evolução grega, a época clássica, desenvolve-se nela.
Portanto, no centro de toda consideração histórica , descrever a cidade grega, é descrever a vida total dos gregos"...


1.  JAEGER.Mexico .Fondo de Cultura, 1942
2. FOUSTEL DE COULANGES. A cidade In: A cidade antiga.Lisboa,Livraria Clássica,1919p.229-243
3. INSTITUT, archéologie Allemand. Plan d'Olympie. Àthenes, Kasas, 1988
4. OLYMPIA comple guide ;texte Spyros Photinos. Athens,Olympic Publications,1989


   
                                          Maquete do Santuário de Olímpia (4)


 INSTITUT, archéologie Allemand. Plan d'Olympie. Àthenes, Kasas, 1988 (3)
       

                                          Maquete de Olimpia (3)


MALLWITZ,Eva.Maquete d'Olympie vue par l'Est.;original se trouve au Folkwangmuseum à Essen.Une copie établie en 1963 par  la ville d'Essen est au nouveau musée d"Olimpie.
Aí se encontram o templo de Zeus,o Athelié de Phidias,a Piscine des Bains,a Palestrae o Gynasium.

1.  Delfos. Centro espiritual da antiga Grécia

Delfos, um dos lugares mais bonitos da Grécia, com sua paisagem deslumbrante,sua majestade e grandeza ,onde se fundou o maior centro religioso da Grécia antiga.
Sua fama, que se estendia por todo Mediterrâneo se devia à presença de um oráculo.
Segundo a tradição, a causa  da criação do santuário se devia a uma fresta nas pedras,da qual saiam gases, que influenciavam o oráculo em suas predições.
O primeiro oráculo, que remonta à pré-história e à era do bronze, era dedicado à deusa Gea (deusa mãe).Junto a ela se  honrava também seu marido Poseidon e sua filha Temis A estes soberanos do santuário, sucedeu mais tarde, Apolo ,filho de Zeus, depois de grande luta contra a serpente Pitón.Apolo é adorado como Deus da luz, da música, da harmonia e da ordem. É além disso, o Deus que possue o poder da adivinhação, e manifesta aos homens a "vontade infalível de Zeus, ajudando-os a resolver pequenos e grandes problemas .Emissários de todos os lugares vinham em busca de respostas que eram transmitidas em balbucíos através da sacerdotiza Pitia.Aos oráculos competia interpretá-los.Em geral a influência do oráculo foi decisiva na vida política e intelectual da Grécia ,convertendo-se no árbitro de assuntos de muitas cidades gregas e do Mediterrâneo.Tornou-se um centro de união entre os gregos ,que divididos em pequenas cidades-estado, tinham necessidade de um centro que acentuasse seus vínculos raciais.Isso acontecia de quatro em quatro anos nos jogos Píticos,segundo dos jogos em importância depois dos Olímpicos.




Santuário de Atenea Pronaia.In:KONSOLA,Dora.Delfos;el emplazamiento arqueologico y el museo. Athens,Olympic Color,(s.d.)

domingo, 8 de abril de 2012

Grecia- A época homérica e seus herois

Existem fatores, que particularmente caracterizam uma época, sejam religiosos, politicos ou econômicos.
Sob a influência desses fatores,o homem reagiu, ou pode reagir,realizando um ideal que levaria à libertação do "Eu", ou a fixação dos ideais projetados pelo mesmo "Eu" na sociedade ou estado.
A ética filosofica foi elaborada. ,criando  e estabelecendo os valores da nossa civilização.
Grandes personalidades humanas se projetaram...
Na antiguidade classica, especificamente na Grecia, ideais humanos próximos daqueles que caracterizam o homem ocidental, como individualismo, amor à liberdade , raciocínio lógico, otimismo perante a vida, já existiam...
O que é a "Paideia",  a expressão de toda a cultura grega, senão uma das bases  da nossa civilização ocidental ?
Incorremos num lugar comum ao falarmos de "Milagre grego"? Teria sido um milagre o que ocorreu na Grecia, ou teria como disse Bonnard (2)," tudo advindo de um marcapasso do lento progresso da humanidade" e o povo grego, não teria mais que desenvolvido, com os meios que teve à mão,e sem que fosse obrigado a apelar para dons particulares, de que o céu lhe teria feito dom, uma evolução operada antes dele"...


Poignard de bronze damasquiné.TombeV.Mycènes.XVI e siècle av.J.C.(8)
Le "vase des guerriers.Cratère.Mycènes.XIIIsiècle av.J.C.(8)
 

                                                                    




  .
1,  A cultura grega 

Tudo quanto é Helênico foi tão transfigurado, através de séculos inteiros de louvores, que é difícil ver os gregos com um olhar puro, ou conhecê-los tal como foram...
O apelo da Grécia é de tal forma poderoso, a devoção que ela desperta de tal forma apaixonada, que praticamente não existe esfera nenhuma da atividade espiritual ,que não tivesse sido tocada pela sua chama...
Para compreendermos os gregos, temos que tentar recapitular o que foi a sua experiência, de modo a podermos analisar o que ela significou para eles e, o que lhes exigiu...
Provar o passado é sempre arriscado e não há documentos ,nem monumentos que possam compensar, de alguma forma, a perda de muitas coisas que permitiriam ver os homens , tal como eles eram"(3)

Fotos do período Micênico.




  .            MYCÈNES.L'entrée de la tombe de Clytemenestra.Athens;La porte des lyon; Le  cercle A vue du N-O. Athens, Ed. Hannibal,1957.




   1.1 Origem
Antes de 1900 A.C... um povo de fala grega emigrou para o sul ...contribuindo para configurar a civilização micênica;
1400-1200 A.C.  Período micênico Idade do Bronze (Micenas,Argos, Pilos) Nos palácios a escrita linear B(silábica)
Termos que eram aplicados aos gregos- "Graeci", pelos romanos.

"Aqueus,"  eram assim designados na época micênica, a julgar pelos monumentos hititas   contemporâneos.
`Por volta de 1200 A.C.a civilização micênica teve um fim brusco, atribuido pela maioria dos historiadores, a ma nova imigração grega, à dos dórios. Os quatrocentos anos que se seguiram , foram uma idade obscura, tanto pelo fato de que pouco sabemos dela, como no sentido em que a idade média ocidental o foi : desapareceu a arte da escrita, sucumbiram os centros de poder, as guerras tornaram-se frequentes.Tribus e outros grupos menores, emigraram para a Grécia e para o norte (oriente),atravessando o mar Egeu em diração à Asia Menor. Houve decadência, tanto no aspecto  quanto no cultural. Entretanto, foi nessa época ,que ocorreu uma importante inovação técnica--o uso do ferro--e  nasceu a civilização grega". (4)


   1.2  Período Homérico

Homero, trata de um periodo intrigante da História da Grecia nos seus livros "Iliada e Odisseia." Um periodo realmente obscuro, porque, em relação ao proprio Homero, pergunta-se :  teria Homero  existido,? Seria ele um "aedo cego"  do sec.IX A.C.? Teria  ele escrito as obras que lhe foram atribuídas, ou  seriam elas o resultado de uma tradição oral , compilada em épocas diferentes?  Teria sido contemporâneo da imigração jônica segundo Aristóteles e Plutarco.As modernas escavações arqueológicas nos levam a localizá-lo entre os sec.IX-XI A,C. ; mais no sec.IX ,de acordo com Heródoto e Cícero.
Jaeger não concebia essas obras como uma unidade, obras de um só poeta, porque as sociedades que ambas descrevem diferiam entre si ;acha que devemos falar de Homero, como a princípio falaram os antigos, agrupando sob seu nome diversos poemas épicos,importando mais, o modo como iremos estudar essas obras " separando a verdade da ficção".(6)
  .

   1.2.1  A Ilíada

   
 A "Ilíada" trata do cerco  e queda  de Troia. "Ilío","é uma cidade extensa, com ruas largas, altos portões e torres," a cidade de Priamo e dos troianos," a cidade que pedreiros,carpinteiros e artífices de outrora, edificaram, e que, provavelmente ,difere profundamente, pelo menos na aparência,da vistosa cidadela descrita pelos poemas épicos " Ela é santa e sagrada, escarpada, mas uma cidade bem constitutida e com bons portos(1)
 "Todo individuo , que dotado de um certo grau de imaginação, achando-se  no alto de antiga colina do canto extremo noroeste da Asia Menor ,lançar um olhar sobre a planicie troiana , pensará em algumas das mil e uma cenas palpitantes de que ela foi teatro..."Através de escavações arqueologicas,Schliemann e Dorsfield ,acharam na região de Hissarllik,(2) nove camadas principais, que se estendiam por uma elevação adentro. A Troia de Homero, foi identificada numa espessa camada calcinada ,que se contou como terceira ,a partir do fundo.







Na Ilíada, "a primeira grande conquista do povo grego, é a poesia." É o poema do homem na guerra, dos homens consagrados pelas suas paixões e pelos deuses. Um grande poeta fala da grandeza do homem perante ,"esse flagelo detestavel ", que é a guerra, do homem arrebatado por Ares...Fala da coragem dos heróis,que matam e morrem com simplicidade, do sacrificio voluntario dos defensores,da patria, da dor das mulheres, do adeus dos paes ao filho, da súplica dos velhos. Fala de muitas outras coisas como a ambição dos chefes; a sua cupidez, as querelas e injurias com que se acumulam e, ainda, a covardia, a vaidade, o egoismo, lado a lado com a bravura, a amizade, a ternura, a piedade mais forte que a vingança. Fala do amor à gloria, que eleva o homem à altura dos deuses.Fala desses deuses onipotentes e da sua serenidade, suas paixões , seus caprichos e interesses e a sua profunda indiferença pela turba dos mortais. Acima de tudo, esse poema, onde reina a morte, fala do amor à vida, e também da honra do homem, mais alta que a vida e mais forte que os deuses".(2)
O episódio escolhido pelo poeta, que dá a todo poema sua unidade de ação, é o da cólera infinita de Aquiles, sua querela com Agamenon, rei de Micenas e chefe da expedição contra Troia, e as questões funestas dessa querela para os gregos aqueus que acediavam Troia.
O ponto culminante da Ilíada é o combate singular de Heitor com Aquiles.(2) Heitor combate como um valente,com o coração,todo cheio do amor que dedica à mulher, ao filho, à sua terra. Aquiles é o mais forte. Os próprios deuses que protegim Heitor se afastam dele. Aquiles fere-o mortalmente e leva para o campo dos gregos o corpo de Heitor, não sem antes o ter ultrajado"Aquiles, aparece, em primeiro lugar, como uma imagem de juventude e força.  . Juventude indomada, que cresceu na guerra e que não aceitou ,ainda siquer,  o freio da vida social."O encadeamneto : paixão, sofrimento, ação é Aquiles. Duas vezes é avisado que se matar Heitor morrerá. Responde: "'que me importa ? Antes morrer que ficar junto às naves, inutil fardo na terra." Ao seu cavalo Xanto, que singularmente toma a palavra para lhe anunciar a morte no próximo combate, responde : "para que anunciar a minha morte? Sei que meu destino é morrer longe de meu pae e minha mãe.Não me deterei antes de afastar os troianos do combate. Assim falou e com grandes gritos impelíu os cavalos para a linha de frente". Aquiles  ama a vida o bastante para preferir a intensidade dela à sua duração. É este o sentido da escolha que fizera na juventude: a "gloria" conquitada na ação.A morte em " gloria" é também a imortalidade na memória dos homens.
Heitor, heroi troiano,tão bravo quanto Aquiles. "A bravura de Heitor ,no entanto, tem uma qualidade diferente;não é bravura de natureza ,mas de razão:coragem conquistada sobre a propria natureza;disciplina que se impôs a si próprio.Aquiles se compraz na guerra, ao contrario de Heitor que, detesta a guerra.,como diz com simplicidade a Andrômada ; teve que aprender a ser bravo, a combater na primeira fila dos troianos. A sua coragem é a mais alta coragem, a única ,que segundo Sócrates ,merece esse nome porque,
não ignorando o medo,  o supera.,encarando a morte de frente e morrendo como um valente.
Para lutar contra a covardia, não há sòmente o amor proprio, e o respeito humano: há a "honra", mais alta que a vida.
 Aquiles não precisa refletir para ser bravo.Heitor é bravo por um ato de reflexão. Heitor é um  homem que se define no amor aos seus, no conhecimento de valores universais e, até o último momento,no esforço e na luta. (1)
O aspecto ético que persiste e é abordado ,aparece  nos herois homéricos como "um certo tipo de existência, um tipo ideal de homem a realizar"(7) .e  se projeta na educação  do grego visando "perfeição, gloria individual e honra" em todos os campos possiveis. Esse ideal se traduz na "areté" que se identifica com virtude, mas que segundo Jaeger, (6) " não é a palavra mais mais exata para,traduzir "areté",apezar de ser a mais próxima.Seu significado foi na época Homérica "destreza e força" personificada por Aquiles. Só os seres superiores a possuiam, (poderia ser encontrada nos deuses, nos nobres e nos cavalos de raça).
A honra, outro ideal homérico é o" reconhecimento social da glória" Esse  reconhecimento leva o herói a agir em torno daquilo que a sociedade espera dele.No presente caso, não é propriamente a defesa de Atenas, sua cidade que move Aquiles .Sentindo-se ultrajado com a morte de seu amigo Pátrocles, ela entra na luta contra Heitor, não para defender a sua pátria, mas para defender sua honra, vingando um amigo."ele sabe que morto Heitor, matador de Pátrocles, chegaria a sua vez ( Tétis --a deusa--lhe havia dito). Mesmo assim prefere uma morte gloriosa no campo de batalha. Não é que ele não ame a vida... o futuro no Hades ou Campos Elíseos não é promissor...
Uma pergunta que é feita por Jaeger (6) é, se havia " consciência   entre os gregos no"sentido moderno do Eu", na época homérica. Responde que não.Os valores são sociais e introjetados.
 Palavras de Aquiles:
" Pois que eu morra agora mesmo, visto que não pude defender um companheiro da morte. Ele pereceu longe da pátria ,e eu faltei-lhe, não o defendi da desgraça. Agora... já não me é dado rever a terra pátria, já que para Patrocles eu não fui a luz da salvação; nem para os companheiros--- pois morreram muitos às mãos do divino Heitor. Agora, sentado ao lado dos navios, sou fardo inútil sobre a terra , eu que antes entre os acaios, vestidos de bronze,não tinha igual na guerra, pois que nas assembléias, há melhores que eu
.Ah!Que ao menos desapareça a discordia entre os deuses e os homens, e que deite-se fora a bilis, que incendeia o mais insensato...Deixemos o passado, domemos o coração em nosso peito, porque assim manda a necessidade.Irei, agora, em demanda daquele que abateu uma cabeça querida, Heitor .Estou disposto a receber a divindade funesta, quando Zeus o queira, bem como os outros imortais Se nem  Hercules, com sua força, escapou à divindade funesta, ele, que era tão querido de Zeus , filho de Cronos! A sorte o domou por causa do terrivel furor de Hera..Assim, também eu, se tal é minha sorte, ficarei estirado depois de minha morte.Por agora, possa eu alcançar nobre gloria, fazendo uma troiana ou qualquer dardânia de vestido roçante, levantar ambas as mãos para enxugar as lagrimas das mimosas faces--e que ela chore sem fim"...(5)
            Neste trecho é ressaltado o local de ação dos gregos dutrante toda sua história : nas assembléias (ágora) onde exercitaram a arte do falar, ou nas guerras. Os deuses intervinham na sua vida constantemente, como consta na mitologia grega. .Zeus, o rei dos deuses vivia no Olimpo e Hera ,sua irmã e esposa de Zeus "a mais excelsa das deusas" entrou na luta do lado dos gregos, por causa do julgamento de Páris, filho de Priamo, rei de Troia, que foi o causador da guerra ,quando raptou Helena esposa de Menelau rei de Esparta.
Seria esta realmente a causa da guerra, ou seria o "Óleo negro" que já existia no Ponto Euxino,(nome original do Mar Negro) na Asia Menor?
Imagem atual do local, feita por um satélite da Nasa:



O mar Negro visto por satélite, com a península da Crimeia e o mar de Azov ao norte (imagem NASA).
Outra pergunta que temos que responder, segundo Jaeger, separando a verdade da ficção,como tudo quanto se refere a este período.
Voltemos às figuras mitológicas.
 Tetis,outra deusa, mãe de Aquiles, apezar de tê-lo protegido a vida inteira, tentando afastá-lo dos perígos e consolando-o nas tristezas, não pode evitar que ele morresse na guerra, " pois assim haviam decretado os deuses".
Cronos era a divindade suprema da segunda geração de deuses mitológicos.
            Outra figura desta guerra é Ájax, filho de Télamon; sua bravura é uma bravura pesada,de resistência. Ajax é um homem grande,de largos ombros, "enormes" ,e tem a coragem da obstinação. A sua rudeza serve-o admiravelmente na ofensiva,Deram-lhe ordem de ficar onde o puseram, e alí fica...O poeta chama-o "uma torre", "um muro"...A sua eloquência é a de um soldado. Diz-se em três palavras o que o conduzia " não arredar pé".Com quem mais contam, grita ?Nós só temos a nós... Logo  a salvação está em nossas mãos... O desãnimo é outra coisa que não compreende...Sabe que uma batalha não é um " baile",  mas um lugar, onde no corpo a corpo, colocamos em contacto os braços e a coragem contra o inimigo. Sabe-se num instante, e ainda bem,  se vae morrer ou continuar vivo. Eis os pensamentos ,que fazem no meio de uma batalha, nascer o sorriso no rosto terrível de Ajax"(1)





Théra. La fresque des jeunes boxeurs.Vers. 1550-1500 av. J.C.(8)


2.  A educação na época Homérica.


  Na educação que Aquiles recebe de Fênix encontramos um exemplo da educação do cavaleiro.
Fênix toma conta de Aquiles ocupando-se dele desde cedo, e completa sua educação no campo,nos primeiros anos da guerra de Troia, fazendo dele mestre na arte da guerra.
Palavras de Fênix: para Aquiles:
" O poderoso e abastado Peleus, mandou-me para sua companhia, no mesmo dia que o enviava de Ftia para junto de Agamenão. Era você ainda pequenino, ignorante das coisas da guerra, a todos nefasta, e sem prática nas assembléias, onde  se provam os talentos e se pode ganhar celebridade.Para lhe ensinar tudo isso, amestrando-o no falar e guiando-o nas ações,fui eu para aqui mandado e não quereria agora separar-me de ti filho querido, mesmo que viesse um Deus prometer-me que me fazia de alquebrado e velho que sou, outra vez valente rapaz, como o era quando a primeira vez deixava a Hélade, terra onde são mui formosas as mulheres, para escapar das iras de meu pai....Fui também eu, que amando-o com extremoso carinho, o fiz o homem que você é, oh ! Aquiles, semelhante a um Deus... Eras uma criança que estranhava qualquer pessoa, menos a mim; ninguém mais conseguia assentá-la em um banquete.Até no palácio não recebia papa senão de minhas mãos.Tinha de pegá-lo, assetá-lo em meus joelhos, partir em pedaços a comida e levar-lhe à boca o copinho.Muitas vezes você babava por mim abaixo,manchando de vinho a túnica sobre o meu peito; isso e mais os cuidados que é preciso ter com um borrado infante. Mas se tantos trabalhos passei por sua causa, era com o pensamento de que, não me sendo pelos deuses concedido ter filho próprio, o seria você ,oh! Aquiles,a um Deus semelhante: para mais tarde afastar de mim os achaques terríveis que traz consigo a velhice". ( 5)
Ftia era uma região da Tessália em que Peleu,um personagem da mitologia grega era rei.
Agamenão era o lider das cidade que sitiavam Troia.
A sociedade grega na época era constituída de um rei, guerreiros, povo e escravos.
Homero,educador da Grécia, na medida em que os textos a ele atribuidos podiam ser encontrados na cabeceira de todo grego  e que ele imprimiu na posteridade um sentido de heroicidade.(7)


 1.         BERGEN,Carl.W. Troia dos poemas de Homero.In: Troia e os troianos. Lisboa,Verbo,1971.
                   p.15-22.Sá
2.          BONNARD,André. A Ilíada e o humanismo de Homero. In: Civilização grega da Iliada ao
                   Partenon.Lisboa,ed. Estadios, S.d.        
3.         BOWRA,Cecil Maurice. A experiência grega .Lisboa,Arcadia,1967
4.         FINLEY,M.I.Qienes eran los griegos?In:  Los griegos de la antiguedad.Barcelona, Labor,1966
5 .        HOMERO.Ilíada.Lisboa,Sá Costa. (Coleção Sá Costa)
6          JAEGER.Paideia.Mexico, Fondo de Cultura Econômico,1942.
7 .        MARROU-IRINÉE´. Historia da Educação na antiguidade. São Paulo, Herder, 1966.
8.      MUSÉE ARQHEOLOGIQUE NATIONAL D'ATHÈNES.Athènes,ed.D'Arr S. Mélétzis-H.Papa
                   dakis ;Zurich,ed.Schnell&Steiner,(s.d.)




quinta-feira, 8 de março de 2012

Introdução à ética,à educação e à cultura ocidental

A função fundamental da ética é a de toda a teoria : explica, esclarece uma dada realidade, elaborando os conceitos correspondentes.
A realidade moral varía historicamente e com ela os seus princípios e as suas normas
.Definindo, "a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade".(Durkheim).
Ao estabelecer como objeto de estudo a moral em sociedades antigas e modernas, investigamos a natureza e o valor das regras morais. a essência  da moral, o fundamento da consciência moral .
A ética filosófica preocupa-se em buscar concordância entre princípios filosóficos universais e a realidade moral no seu desenvolvimento histórico, antropológico.
Hoje, a história ,a antropologia, a sociologia  ,a psicologia, nos esclarecem bastante sobre a situação externa, interna,  subjetiva, do ato moral.
Problemas morais como responsabilidade e culpabilidade são abordados considerando-se o meio, a cultura, os fatores psíquicos, que intervieram no ato moral.
Ao ser definida como um conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos a respeito do comportamento humano moral,  ela se apresenta com um ojetivo específico, que se pretende estudar cientificamente.
Entretanto o carater único do sujeito moral, impede que esta ciência se constitua.
Durkheim defiu a moral como "ciência dos costumes", seria portanto ciência da moral.
A confusão que acontece entre as palavras moral e ética vem desde sua etimologia, pois ética vem de "ethos", que em grego significa modo de ser, e moral vem de " mores" costumes, tendo sua origem no latim, sendo considerado algo anterior à própria sociedade que em terminada época, e ao mesmo tempo, tende a "cristalizá-los, particularmente, pela legitimação do poder político e da organização econômica existentes."(ideologia)
O comportamento moral é próprio do homem como ser histórico, social e prático, isto é, como ser que transforma conscientemente o mundo que o rodeia.
A ética se relaciona também com a economia política na medida que as relações econômicas influem na moral dominante numa sociedade ,como a obtenção do maior lucro possível , gerando uma moral egoísta e individualista.
Dizer que os gregos e romanos inventaram a política não significa dizer que , antes deles não exitiam o poder e a autoridade.Antes dos gregos e romanos, em outras civilizações antigas civilizações, floresceu o poder despótico ou patriarcal .
Em grego,"despotes", e em latim "pater familias" ,o patriarca era o chefe e possuia poder absoluto decidindo sobre a vida ou morte dos membros da família existente, não no sentido em que é hoje ( pai,mãe e filhos),mas  como unidade econômica muito mais ampla.
Geralmente a origem do poder estava na posse da terra e de riquezas, mas procurava-se garantí-lo através do poder sobrenatural .
Sendo designado pelos deuses, o detentor do poder também era  o encarregado de relacionar-se diretamente com eles,concentrando em sua mão a autoridade religiosa.---aparecimento da classe sacerdotal, dos guerreiros, e dos grupos detentores de autoridade como chefes de clã e tribos.
Quando se afirma que os gregos e romanos inventaram a política, o que se afirma é que desfizeram as anteriores caracteríticas da autoridade e do poder.
Separaram a autoridade pessoal privada do chefe de família  do poder impessoal público pertencente à comunidade, impedindo a identificação do poder político com a pessoa do governante.
Criaram a ideia e a prática da lei , como vontade coletiva e pública, definidora dos direitos e deveres para todos os cidadãos.
 Ao criarem a lei e o direito,conferiram a uma instância impessoal e coletiva o direito exclusivo do uso da força para punir crimes.Criaram o espaço político ou espaço público--a assembléia grega e o senado romano.
O que foi conseguido não foi uma sociedade sem classes...mas "a invenção da política como uma solução e resposta que uma sociedade oferece para suas diferenças, seus conflitos e  contradições, sem fechar-se à temporalidade e às mudanças".(1)
Naturalmente essa evolução não se deu de uma hora para outra, mas segundo " o lento marcapasso das  civilizações".
Dentro da própria Grécia, se compararmos a evolução política das cidades estado Esparta e Atenas, vamos verificar ideias completamente diferentes.
Se a política aparece como trabalho legítimo dos conflitos; o fracasso neste trabalho se apresenta como causa da força e da violência.
A Democracia ateniense e a oligarquias de Esparta e da República romana, fundaram a ideia e a prática da política na Civilização Ocidental.  (.CHAUI,Marilena. Convite à filosofia São Paulo, Ática,1973.)
 .
1,  A cultura grega 

Tudo quanto é Helênico foi tão transfigurado, através de séculos inteiros de louvores, que é difícil ver os gregos com um olhar puro, ou conhecê-los tal como foram..
O apelo da Grécia é de tal forma poderoso, a devoção que ela desperta de tal forma apaixonada, que praticamente não existe esfera nenhuma da atividade espiritual ,que não tivesse sido tocada pela sua chama..
Para compreendermos os gregos, temos que tentar recapitular o que foi a sua experiência, de modo a podermos analisar o que ela significou para eles e, o que lhes exigiu...
Provar o passado é sempre arriscado e não há documentos ,nem monumentos que possam compensar, de alguma forma, a perda de muitas coisas que permitiriam ver os homens , tal como eles eram"(3)
Existem fatores que particularmente caracterizam uma época,sejam religiosos, politicos ou econômicos
Sob a influência desses fatores,o homem reagiu, ou pode reagir,realizando um ideal que levaria à libertação do "Eu", ou a fixação dos ideais projetados pelo mesmo "Eu" na sociedade ou estado.
A ética filosofica foi elaborada. ,criando  e estabelecendo os valores da nossa civilização.
Grandes personalidades humanas se projetaram...
Na antiguidade classica, especificamente na Grecia, ideais humanos próximos daqueles que caracterizam o homem ocidental, como individualismo, amor à liberdade , raciocínio lógico, otimismo perante a vida, já existiam...
O que é a "Paideia",  a expressão de toda a cultura grega, senão uma das bases  da nossa civilização ocidental ?
Incorremos num lugar comum ao falarmos de "Milagre grego"? Teria sido um milagre o que ocorreu na Grecia, ou teria como disse Bonnard "(2)," tudo advindo de um marcapasso do lento progresso da humanidade"? e o povo grego, não teria mais que desenvolvido, com os meios que teve à mão,e sem que fosse obrigado a apelar para características particulares, de que o céu lhe teria feito dom, uma evolução operada antes dele"...



1.1 Origem


Antes de 1900 A.C... um povo de fala grega emigrou para o sul ...contribuindo para configurar a civilização micênica;
1400-1200 A.C.  Período micênico Idade do Bronze (Micenas,Argos, Pilos). Nos palácios a escrita linear B (silábica).
Termos que eram aplicados aos gregos- "Graeci", pelos romanos.
"Aqueus,"  eram assim designados na época micênica, a julgar pelos monumentos hititas   contemporâneos.
Por volta de 1200 A.C.a civilização micênica teve um fim brusco, atribuido pela maioria dos historiadores, a uma nova imigração grega, à dos dórios.
Os quatrocentos anos que se seguiram , foram uma idade obscura, tanto pelo fato de que pouco sabemos dela, como no sentido em que a idade média ocidental o foi : desapareceu a arte da escrita, sucumbiram os centros de poder, as guerras tornaram-se frequentes.
Tribos e outros grupos menores, emigraram para a Grécia e para o norte (oriente), atravessando o mar Egeu em diração à Asia Menor. Houve decadência, tanto no aspecto material quanto no cultural. Entretanto, foi nessa época ,que ocorreu uma importante inovação técnica--o uso do ferro--e a civilização grega nasceu. (4)


Poignard de bronze damasquiné.TombeV.Mycènes.XVI e siècle av.J.C.(8)

Le "vase des guerriers.Cratère.Mycènes.XIIIsiècle av.J.C.(8)

 

                                                                    






Fotos do período Micênico.




  .            MYCÈNES.L'entrée de la tombe de Clytemenestra.Athens;La porte des lyon; Le  cercle A vue du N-O. Athens, Ed. Hannibal,1957.


  

   1.2  Período Homérico

Homero, trata de um periodo intrigante da História da Grecia nos seus livros "Iliada e Odisseia." Um periodo realmente obscuro, porque, em relação ao proprio Homero, pergunta-se :  teria Homero  existido,? Seria ele um "aedo cego"  do sec.IX A.C.? Teria  ele escrito as obras que lhe foram atribuídas, ou  seriam elas o resultado de uma tradição oral , compilada em épocas diferentes?  Teria sido contemporâneo da imigração jônica segundo Aristóteles e Plutarco.As modernas escavações arqueológicas nos levam a localizá-lo entre os sec.IX-XI A,C. ; mais no sec.IX ,de acordo com Heródoto e Cícero.
Jaeger não concebia essas obras como uma unidade, obras de um só poeta, porque as sociedades que ambas descrevem diferiam entre si ;acha que devemos falar de Homero, como a princípio falaram os antigos, agrupando sob seu nome diversos poemas épicos,importando mais, o modo como iremos estudar essas obras " separando a verdade da ficção".(6)
  .

   1.2.1  A Ilíada

   
 A "Ilíada" trata do cerco  e queda  de Troia. "Ilío","é uma cidade extensa, com ruas largas, altos portões e torres," a cidade de Priamo e dos troianos," a cidade que pedreiros,carpinteiros e artífices de outrora, edificaram, e que, provavelmente ,difere profundamente, pelo menos na aparência,da vistosa cidadela descrita pelos poemas épicos " Ela é santa e sagrada, escarpada, mas uma cidade bem constitutida e com bons portos(1)
 "Todo individuo , que dotado de um certo grau de imaginação, achando-se  no alto de antiga colina do canto extremo noroeste da Asia Menor ,lançar um olhar sobre a planicie troiana , pensará em algumas das mil e uma cenas palpitantes de que ela foi teatro..."Através de escavações arqueologicas,Schliemann e Dorsfield ,acharam na região de Hissarllik,(2) nove camadas principais, que se estendiam por uma elevação adentro. A Troia de Homero, foi identificada numa espessa camada calcinada ,que se contou como terceira ,a partir do fundo.






1.2.1.1 ética dos heróis homéricos 


Na Ilíada, "a primeira grande conquista do povo grego, é a poesia." É o poema do homem na guerra, dos homens consagrados pelas suas paixões e pelos deuses. Um grande poeta fala da grandeza do homem perante ,"esse flagelo detestavel ", que é a guerra, do homem arrebatado por Ares...Fala da coragem dos heróis,que matam e morrem com simplicidade, do sacrificio voluntario dos defensores,da patria, da dor das mulheres, do adeus dos paes ao filho, da súplica dos velhos. Fala de muitas outras coisas como a ambição dos chefes; a sua cupidez, as querelas e injurias com que se acumulam e, ainda, a covardia, a vaidade, o egoismo, lado a lado com a bravura, a amizade, a ternura, a piedade mais forte que a vingança. Fala do amor à gloria, que eleva o homem à altura dos deuses.Fala desses deuses onipotentes e da sua serenidade, suas paixões , seus caprichos e interesses e a sua profunda indiferença pela turba dos mortais. Acima de tudo, esse poema, onde reina a morte, fala do amor à vida, e também da honra do homem, mais alta que a vida e mais forte que os deuses".(2)
O episódio escolhido pelo poeta, que dá a todo poema sua unidade de ação, é o da cólera infinita de Aquiles, sua querela com Agamenon, rei de Micenas e chefe da expedição contra Troia, e as questões funestas dessa querela para os gregos aqueus que acediavam Troia.
O ponto culminante da Ilíada é o combate singular de Heitor com Aquiles.(2) Heitor combate como um valente,com o coração,todo cheio do amor que dedica à mulher, ao filho, à sua terra. Aquiles é o mais forte. Os próprios deuses que protegim Heitor se afastam dele. Aquiles fere-o mortalmente e leva para o campo dos gregos o corpo de Heitor, não sem antes o ter ultrajado"Aquiles, aparece, em primeiro lugar, como uma imagem de juventude e força.  . Juventude indomada, que cresceu na guerra e que não aceitou ,ainda siquer,  o freio da vida social."O encadeamneto : paixão, sofrimento, ação é Aquiles. Duas vezes é avisado que se matar Heitor morrerá. Responde: "'que me importa ? Antes morrer que ficar junto às naves, inutil fardo na terra." Ao seu cavalo Xanto, que singularmente toma a palavra para lhe anunciar a morte no próximo combate, responde : "para que anunciar a minha morte? Sei que meu destino é morrer longe de meu pae e minha mãe.Não me deterei antes de afastar os troianos do combate. Assim falou e com grandes gritos impelíu os cavalos para a linha de frente". Aquiles  ama a vida o bastante para preferir a intensidade dela à sua duração. É este o sentido da escolha que fizera na juventude: a "gloria" conquitada na ação.A morte em " gloria" é também a imortalidade na memória dos homens.
Heitor, heroi troiano,tão bravo quanto Aquiles. "A bravura de Heitor ,no entanto, tem uma qualidade diferente; não é bravura de natureza ,mas de razão:coragem conquistada sobre a propria natureza;disciplina que se impôs a si próprio.Aquiles se compraz na guerra, ao contrario de Heitor que, detesta a guerra.,como diz com simplicidade a Andrômada ; teve que aprender a ser bravo, a combater na primeira fila dos troianos. A sua coragem é a mais alta coragem, a única ,que segundo Sócrates ,merece esse nome porque,
não ignorando o medo,  o supera.,encarando a morte de frente e morrendo como um valente.
Para lutar contra a covardia, não há sòmente o amor proprio, e o respeito humano: há a "honra", mais alta que a vida.
 Aquiles não precisa refletir para ser bravo.Heitor é bravo por um ato de reflexão. Heitor é um  homem que se define no amor aos seus, no conhecimento de valores universais e, até o último momento,no esforço e na luta. (1)
O aspecto ético que persiste e é abordado ,aparece  nos herois homéricos como "um certo tipo de existência, um tipo ideal de homem a realizar"(7) .e  se projeta na educação  do grego visando "perfeição, gloria individual e honra" em todos os campos possiveis. Esse ideal se traduz na "areté" que se identifica com virtude, mas que segundo Jaeger, (6) " não é a palavra mais mais exata para,traduzir "areté",apezar de ser a mais próxima.Seu significado foi na época Homérica "destreza e força" personificada por Aquiles. Só os seres superiores a possuiam, (poderia ser encontrada nos deuses, nos nobres e nos cavalos de raça).
A honra, outro ideal homérico é o" reconhecimento social da glória" Esse  reconhecimento leva o herói a agir em torno daquilo que a sociedade espera dele.No presente caso, não é propriamente a defesa de Atenas, sua cidade que move Aquiles .Sentindo-se ultrajado com a morte de seu amigo Pátrocles, ela entra na luta contra Heitor, não para defender a sua pátria, mas para defender sua honra, vingando um amigo."ele sabe que morto Heitor, matador de Pátrocles, chegaria a sua vez ( Tétis --a deusa--lhe havia dito). Mesmo assim prefere uma morte gloriosa no campo de batalha. Não é que ele não ame a vida... o futuro no Hades ou Campos Elíseos não é promissor...
Uma pergunta que é feita por Jaeger (6) é, se havia " consciência   entre os gregos no"sentido moderno do Eu", na época homérica. Responde que não.Os valores são sociais e introjetados.
 Palavras de Aquiles:
" Pois que eu morra agora mesmo, visto que não pude defender um companheiro da morte. Ele pereceu longe da pátria ,e eu faltei-lhe, não o defendi da desgraça. Agora... já não me é dado rever a terra pátria, já que para Patrocles eu não fui a luz da salvação; nem para os companheiros--- pois morreram muitos às mãos do divino Heitor. Agora, sentado ao lado dos navios, sou fardo inútil sobre a terra , eu que antes entre os acaios, vestidos de bronze,não tinha igual na guerra, pois que nas assembléias, há melhores que eu
.Ah!Que ao menos desapareça a discordia entre os deuses e os homens, e que deite-se fora a bilis, que incendeia o mais insensato...Deixemos o passado, domemos o coração em nosso peito, porque assim manda a necessidade.Irei, agora, em demanda daquele que abateu uma cabeça querida, Heitor .Estou disposto a receber a divindade funesta, quando Zeus o queira, bem como os outros imortais Se nem  Hercules, com sua força, escapou à divindade funesta, ele, que era tão querido de Zeus , filho de Cronos! A sorte o domou por causa do terrivel furor de Hera..Assim, também eu, se tal é minha sorte, ficarei estirado depois de minha morte.Por agora, possa eu alcançar nobre gloria, fazendo uma troiana ou qualquer dardânia de vestido roçante, levantar ambas as mãos para enxugar as lagrimas das mimosas faces--e que ela chore sem fim"...(5)
            Neste trecho é ressaltado o local de ação dos gregos dutrante toda sua história : nas assembléias (ágora) onde exercitaram a arte do falar, ou nas guerras. Os deuses intervinham na sua vida constantemente, como consta na mitologia grega. .Zeus, o rei dos deuses vivia no Olimpo e Hera ,sua irmã e esposa de Zeus "a mais excelsa das deusas" entrou na luta do lado dos gregos, por causa do julgamento de Páris, filho de Priamo, rei de Troia, que foi o causador da guerra ,quando raptou Helena esposa de Menelau rei de Esparta.
Seria esta realmente a causa da guerra, ou seria o "Óleo negro" que já existia no Ponto Euxino,(nome original do Mar Negro) na Asia Menor?
Imagem atual do local, feita por um satélite da Nasa:



O mar Negro visto por satélite, com a península da Crimeia e o mar de Azov ao norte (imagem NASA).
Outra pergunta que temos que responder, segundo Jaeger, separando a verdade da ficção,como tudo quanto se refere a este período.
Voltemos às figuras mitológicas.
Tetis,outra deusa, mãe de Aquiles, apezar de tê-lo protegido a vida inteira, tentando afastá-lo dos perígos e consolando-o nas tristezas, não pode evitar que ele morresse na guerra, " pois assim haviam decretado os deuses".
Cronos era a divindade suprema da segunda geração de deuses mitológicos.
            Outra figura desta guerra é Ájax, filho de Télamon; sua bravura é uma bravura pesada,de resistência. Ajax é um homem grande,de largos ombros, "enormes" ,e tem a coragem da obstinação. A sua rudeza serve-o admiravelmente na ofensiva,Deram-lhe ordem de ficar onde o puseram, e alí fica...O poeta chama-o "uma torre", "um muro"...A sua eloquência é a de um soldado. Diz-se em três palavras o que o conduzia " não arredar pé".Com quem mais contam, grita ?Nós só temos a nós... Logo  a salvação está em nossas mãos... O desãnimo é outra coisa que não compreende...Sabe que uma batalha não é um " baile",  mas um lugar, onde no corpo a corpo, colocamos em contacto os braços e a coragem contra o inimigo. Sabe-se num instante, e ainda bem,  se vae morrer ou continuar vivo. Eis os pensamentos ,que fazem no meio de uma batalha, nascer o sorriso no rosto terrível de Ajax"(1)




Théra. La fresque des jeunes boxeurs.Vers. 1550-1500 av. J.C.(8)

1.2.2  A educação na época Homérica.

  Na educação que Aquiles recebe de Fênix encontramos um exemplo da educação do cavaleiro.
Fênix toma conta de Aquiles ocupando-se dele desde cedo, e completa sua educação no campo,nos primeiros anos da guerra de Troia, fazendo dele mestre na arte da guerra.
Palavras de Fênix: para Aquiles:
" O poderoso e abastado Peleus, mandou-me para sua companhia, no mesmo dia que o enviava de Ftia para junto de Agamenão. Era você ainda pequenino, ignorante das coisas da guerra, a todos nefasta, e sem prática nas assembléias, onde  se provam os talentos e se pode ganhar celebridade.Para lhe ensinar tudo isso, amestrando-o no falar e guiando-o nas ações,fui eu para aqui mandado e não quereria agora separar-me de ti filho querido, mesmo que viesse um Deus prometer-me que me fazia de alquebrado e velho que sou, outra vez valente rapaz, como o era quando a primeira vez deixava a Hélade, terra onde são mui formosas as mulheres, para escapar das iras de meu pai....Fui também eu, que amando-o com extremoso carinho, o fiz o homem que você é, oh ! Aquiles, semelhante a um Deus... Eras uma criança que estranhava qualquer pessoa, menos a mim; ninguém mais conseguia assentá-la em um banquete.Até no palácio não recebia papa senão de minhas mãos.Tinha de pegá-lo, assetá-lo em meus joelhos, partir em pedaços a comida e levar-lhe à boca o copinho.Muitas vezes você babava por mim abaixo,manchando de vinho a túnica sobre o meu peito; isso e mais os cuidados que é preciso ter com um borrado infante. Mas se tantos trabalhos passei por sua causa, era com o pensamento de que, não me sendo pelos deuses concedido ter filho próprio, o seria você ,oh! Aquiles,a um Deus semelhante: para mais tarde afastar de mim os achaques terríveis que traz consigo a velhice". ( 5)
Ftia era uma região da Tessália em que Peleu,um personagem da mitologia grega era rei.
Agamenão era o lider das cidade que sitiavam Troia.
A sociedade grega na época era constituída de um rei, guerreiros, povo e escravos.
Homero,educador da Grécia, na medida em que os textos a ele atribuidos podiam ser encontrados na cabeceira de todo grego  e que ele imprimiu na posteridade um sentido de heroicidade.(7)


 1.      BERGEN,Carl.W. Troia dos poemas de Homero.In: Troia e os troianos. Lisboa,Verbo,1971.
                   p.15-22.Sá
2.      BONNARD,André. A Ilíada e o humanismo de Homero. In: Civilização grega da Iliada ao
                   Partenon.Lisboa,ed. Estadios, S.d.        
3.      BOWRA,Cecil Maurice. A experiência grega .Lisboa,Arcadia,1967
4.     FINLEY,M.I.Qienes eran los griegos?In:  Los griegos de la antiguedad.Barcelona, Labor,1965 .
5.     HOMERO.Ilíada.Lisboa,Sá Costa. (Coleção Sá Costa)

6       JAEGER.Paideia.Mexico, Fondo de Cultura Econômico,1942.
7 .     MARROU-IRINÉE´. Historia da Educação na antiguidade. São Paulo, Herder, 1966.
8.      MUSÉE ARQHEOLOGIQUE NATIONAL D'ATHÈNES.Athènes,ed.D'Arr S. Mélétzis-H.Papa
                   dakis ;Zurich,ed.Schnell&Steiner,(s.d.)

            
2. As cidades  gregas 

"Uma cidade estado, entre os antigos, não se formava no decorrer do tempo, pelo lento desenvolvimento do número de homens e construções. Fundava-se uma cidade de uma só vez,completamente num dia...Uma vez que as famílias, fátrias, e  tribus ,convencionavam unir-se e ter o mesmo culto comum. Assim, a fundação de uma cidade, era sempre um ato religioso"...
"Cercada de uma vedação sagrada e estendendo-se em volta de um altar, a"urbes"era o domicílio religioso que recebia os deuses e os homens da cidade"...
"Não devemos nos esquecer que nos tempos antigos, o que constituía o laço de toda sociedade era o culto.Assim como um altar doméstico tinha agrupado em redor de si os membros de uma família, assim a cidade, era a reunião daqueles que tinham os mesmos deuses protetores e, que cumpriam o ato religioso no mesmo altar. Este altar da cidade  estava fechado no recinto de uma edificação, que os gregos chamavam " pry tanado"; edifício que continha o lar...Numa cidade não havia coisa mais respeitada do que esse altar em que ardia o fogo sagrado"...
" O fogo público era o santuário da cidade; era o que a fizera nascer e a conservava. Como o culto do lar doméstico, era secreto, e só a família tinha direito de tomar parte; assim o culto público, era vedado aos estrangeiros"...
" Na Grécia havia uma porção de divindades políadas pois cada cidade tinha os deuses que os habitantes cultuavam"...
" Na refrega, os deuses e cidades auxiliavam-se mutuamente, e quando venciam, era porque todos tinham cumprido seu dever...Se, pois, pelo contrário, ficavam vencidos, imputavam a culpa aos deuses, repreendendo-os por não terem cumprido o seu dever de defensores da cidade,chegando algumas vezes, até a destruir-lhes os altares e a arremessar pedras contra os templos"...
" Uma cidade era como uma pequena igreja completa que tinha os seus deuses, os seus dogmas, e o seu culto"..(2)
Entre as cidades estado gregas encontramos unidade religiosa, de língua e de costumes ; só não encontramos unidade política, o que foi precisamente a perdição da Grécia, que por estar dividida, foi conquistada  pelos macedônios, através de Filipe.
 Foi na estrutura social da vida na "polis", que a cultura grega atingiu pela primeira vez a forma clássica...
.Segundo Jaeger ,( 1 )a "polis" representa "um princípio novo,uma forma mais firme e acabada de vida social de muito maior valor para os gregos que nenhuma outra".
As palavras política e político, derivadas de "polis", ainda se mantêm vivas entre nós. Lembram-nos que foi com a "polis" grega que apareceu pela primeira vez o que denominamos estado;conquanto o termo grego possa se traduzir tanto por estado quanto por cidade. 
A "polis", "é o centro dominador, a partir do qual a sociedade se organiza històricamente. O período mais importante da evolução grega, a época clássica, desenvolve-se nela. Portanto, no centro de toda consideração histórica , descrever a cidade grega, é descrever a vida total dos gregos"...


1.  JAEGER.Mexico .Fondo de Cultura, 1942
2. FOUSTEL DE COULANGES. A cidade In: A cidade antiga.Lisboa,Livraria Clássica,1919p.229-243
3. INSTITUT, archéologie Allemand. Plan d'Olympie. Àthenes, Kasas, 1988
4. OLYMPIA comple guide ;texte Spyros Photinos. Athens,Olympic Publications,1989


 
                                          Maquete do Santuário de Olímpia (4)


 INSTITUT, archéologie Allemand. Plan d'Olympie. Àthenes, Kasas, 1988 (3)
     

                                          Maquete de Olimpia (3)


MALLWITZ,Eva.Maquete d'Olympie vue par l'Est.;original se trouve au Folkwangmuseum à Essen.Une copie établie en 1963 par  la ville d'Essen est au nouveau musée d"Olimpie.
Aí se encontram o templo de Zeus,o Athelié de Phidias,a Piscine des Bains,a Palestrae o Gynasium.


2.1  Delfos. Centro espiritual da antiga Grécia


Delfos, um dos lugares mais bonitos da Grécia, com sua paisagem deslumbrante,sua majestade e grandeza onde se fundou o maior centro religioso da Grécia antiga.Sua fama, que se estendia por todo Mediterrâneo se devia à presença de um oráculo.
Segundo a tradição, a causa  da criação do santuário se devia a uma fresta nas pedras,da qual saiam gases, que influenciavam o oráculo em suas predições.O primeiro oráculo,que remonta à pré-história e à era do bronze, era dedicado à deusa Gea (deusa mãe).Junto a ela se honrava também seu marido Poseidon e sua filha Temis A estes soberanos do santuário, sucedeu mais tarde, Apolo ,filho de Zeus, depois de grande luta contra a serpente Pitón.Apolo é adorado como Deus da luz, da música, da harmonia e da ordem. É além disso, o Deus que possue o poder da adivinhação, e manifesta aos homens a "vontade infalível de Zeus, ajudando-os a resolver pequenos e grandes problemas .Emissários de todos os lugares vinham em busca de respostas que eram transmitidas em balbucíos através da sacerdotiza Pitia.Aos oráculos competia interpretá-los.Em geral a influência do oráculo foi decisiva na vida política e intelectual da Grécia ,convertendo-se no árbitro de assuntos de muitas cidades gregas e do Mediterrâneo.Tornou-se um centro de união entre os gregos ,que divididos em pequenas cidades-estado, tinham necessidade de um centro que acentuasse seus vínculos raciais.Isso acontecia de quatro em quatro anos nos jogos Píticos,segundo dos jogos em importância depois dos Olímpicos.




Santuário de Atenea Pronaia.In:KONSOLA,Dora.Delfos;el emplazamiento arqueologico y el museo. Athens,Olympic Color,(s,d.)







  

             
         

           

           










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